domingo, 16 de novembro de 2008

Juazeiro pode esquentar ainda mais ?

Os alunos do Terceiro Ano do Ensino Médio da Escola Paraíso sediada na cidade de Juazeiro do Norte, orientados pelo Professor de Geografia João Ludgero, desenvolveram pesquisa para identificar a formação de Ilhas de Calor na cidade de Juazeiro do Norte.Os pesquisadores identificaram que o intenso crescimento populacional da cidade, potencializa a urbanização e o aumento da concentração de pessoas em atividades do terciário e secundário. Esse crescimento populacional seguido de uma urbanização desordenada tem contribuído para o surgimento de um fenômeno climático conhecido como “Ilha de Calor”. Esse tipo de fenômeno é caracterizado pela distribuição espacial do campo de temperatura sobre a cidade que apresenta um máximo, como se fosse uma ilha quente localizada. Alterações da umidade do ar, da precipitação e do vento também estão associadas à presença de ilha de calor urbana.Nas cidades de latitudes tropicais devido à alta intensidade da radiação solar incidente as ilhas de calor urbanas ocorrem durante o dia, agravando a sensação e o desconforto devido à elevação da temperatura e à redução da umidade relativa do ar.A origem das ilhas de calor decorre da presença de edificações e das alterações da paisagem feitas pelo homem nas cidades. A superfície urbana apresenta particularidades em relação à capacidade térmica e densidade dos materiais utilizados: asfalto, concreto, telhas, solo exposto, enfim, uma infinidade de adaptações à vida urbana que acabam favorecendo essa concentração de calor próximo à superfície. Entre as principais causas das ilhas de calor no Juazeiro temos temos:01 - Efeitos da poluição do ar: o efeito de interação entre a radiação e a poluição atmosférica constituída de partículas e de diferentes gases, como os gases do efeito estufa (CO, CO2, O3, hidrocarbonetos, entre outros) provoca alterações locais no balanço de energia e radiação que podem ser associadas à formação das ilhas de calor urbanas. Uma série de reações químicas e fotoquímicas podem ocorrer em ambiente urbano poluído. O aumento da irradiância de onda longa da atmosfera em direção às superfícies urbanas associada ao aumento da concentração dos gases do efeito estufa sobre as cidades (C02, metano) modifica o balanço de energia (radiação e fluxos de calor) da superfície e da atmosfera.02 - Fontes antrópicas de calor: Emissões antrópicas de calor e umidade associadas à queima de combustíveis fósseis, ar condicionado, entre outras podem contribuir em muito para o maior aquecimento urbano.03 - Efeito da redução das áreas verdes: Decréscimo da evapotranspiração pela impermeabilização das superfícies urbanas e redução de áreas verdes na cidade. A reduzida fração de área vegetada em áreas fortemente urbanizadas diminui a extensão das superfícies de evaporação (lagos, rios) e de evapotranspiração (parques, bosques, jardins, bulevares). Assim, as atividades humanas alteram os microclimas urbanos e as condições de conforto ambiental das cidades. A impermeabilização dos solos devido à pavimentação e desvio da água por bueiro e galerias, o que reduz o processo de evaporação e evapotranspiração urbana, modificando o balanço hídrico da superfície urbana podendo aumentar a vulnerabilidade da população a enchentes e deslizamentos de terra.04 - Uso de materiais muito absorvedores da radiação solar (de baixa refletividade): Maior acumulação de calor durante o dia devido às propriedades de absorção pelos materiais utilizados na construção da cidade (ou urbanização) e sua emissão durante o período noturno.Sendo assim os pesquisadores do Colégio Paraíso – Juazeiro do Norte, identificaram como os principais responsáveis pelo aumento da temperatura em Juazeiro do Norte foram: Efeitos da poluição do Ar, Fontes antrópicas de calor e a redução das areas verdes.Diante da tabela abaixo não foi identicado Ilhas de Calor em Juazeiro do Norte, pois as mesmas só ocorrem quando é diagnosticado uma diferença de 7º C de um bairro (central) em relação ao outro (periferia).
BAIRRO HORÁRIO TEMPERATURA DIFERENÇA
Centro 14:00 38,5° C 4,5º C
Novo Juazeiro 14:00 34° CCentro 14:00 35º C 1,5º C
Lagoa Seca 14:00 33,5º CCentro 16:00 39º C 3º C
Tiradentes 16:00 36º CCentro 15:00 38º C 4º C
Aeroporto 15:00 34º C
Percebe-se que as ilhas de calor estão se formando, onde fica ai o alerta para o próximo gestor da cidade administre este crescimento desordenado, preocupando-se em aumentar mais as áreas verdes deste município e planejar melhor o desenvolvimento do sítio urbano deste município, onde implante a agenda 21 do mesmo e consiga congregar crescimento urbano com melhoria da qualidade de vida, pois as ilhas de calor agravam as ondas de calor com conseqüências sobre o aumento da mortalidade de idosos e doentes que apresentem redução em sua capacidade de termorregulação corpórea e de percepção da necessidade corpórea de hidratação (idosos e pacientes com doenças mentais ou de mobilidade).Dentro do próprio centro urbano já é notável uma pequena diferença entre as temperaturas de bairros centrais e bairros residenciais da periferia da cidade.Juazeiro do Norte, que apesar de não ser um centro econômico e de pessoas tão grande quanto cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo, já apresenta sinais visíveis de formação de ilhas de calor principalmente no centro do município.Aproveito para parabenizar meus alunos do Colégio Paraíso, que tanto se esforçaram para fazer existir esta pesquisa pioneira no diagnóstico de Ilhas de Calor. Ressalto ainda a importância de uma pesquisa empírica, onde os alunos tiveram a oportunidade também de perceber a existência da cidade formal e informal, ou seja, onde o poder público de fato atua no município de Juazeiro, podendo ver em locus ao vivo e a cores as grandes disparidades sociais neste imenso centro religioso tão carente de IGUALDADE, E FRATERNIDADE.

Alunos dos 3º anos do Ensino Médio do Colégio Paraíso
Professor – João Ludgero – Geógrafo
Especialista em Geopolítica e Direito Ambiental

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

DIGA NÃO AS DROGAS!

Postado por João Ludgero

Tudo começou quando eu tinha 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de "experimenta! Depois, quando você quiser, é só para..." e eu fui na dele.

Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de "raiz", "da terra", que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco do Chitãozinho e Xororó" e em seguida um do "Leandro e Leonardo". Achei legal, coisa bem brasileira; mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais freqüente, comecei a chamar todo mundo de "Amigo" (programa exibido na globo por eles) e acabei comprando pela primeira vez. Lembro que cheguei na loja e pedi: - Me dá um de Zezé de Camargo e Luciano! Era o princípio de tudo!

Logo resolvi experimentar algo diferente e ele me ofereceu um Cd de Axé. Ele dizia que era para relaxar; sabe, coisa leve... "Banda Eva", "Cheiro de Amor", "Netinho", Babado Novo, etc. Com o tempo, meu amigo foi oferecendo coisas piores: "É o Tchan", "Companhia do Pagode", "Ásia de Águia" , AVIÕES e muito mais.

Após o uso contínuo eu já não queria mais saber de coisas leves: eu queria algo mais pesado, mais desafiador, que me fizesse mexer a bunda como eu nunca havia mexido antes! Então meu "amigo" me deu o que eu queria: um Cd do "Harmonia do Samba". Minha bunda passou a ser o centro da minha vida, minha razão de existir. Eu pensava por ela, respirava por ela, vivia por ela!Mas, depois de muito tempo de consumo, a droga perde efeito, e você começa a querer cada vez mais, mais, mais...

Comecei a freqüentar o submundo e correr atrás das paradas. Foi a partir daí que começou a minha decadência. Fui ao show de encontro dos grupos "Karametade" e "Só pra Contrariar", e até comprei a Caras (revista de fofoqueiros e desocupados) que tinha o "Rodriguinho" (fantoche da mídia) na capa.

Quando dei por mim, já estava com o cabelo pintado de loiro... minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro... meus polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo fazendo sinais de positivo! Não deu outra: entrei para um grupo de pagode. Enquanto vários outros viciados cantavam uma "música" que não dizia nada, eu e mais 12 infelizes dançávamos alguns passinhos ensaiados, sorriamos e fazíamos sinais combinados. Lembro-me de um dia quando entrei nas Lojas Americanas e pedi "As melhores do Molejão". Foi terrível!!! Eu já não pensava mais!! Meu senso crítico havia sido dissolvido pelas rimas "miseráveis" e letras pouco arrojadas. Meu cérebro estava travado, não pensava mais em nada!

Mas a fase negra ainda estava por vir. Cheguei ao fundo do poço, no limiar da condição humana, quando comecei a escutar "Popozudas", "Bondes", "Tigrões", "Motinhas", "Tapinhas" e "Éguinhas". Comecei a ter delírios, a dizer coisas sem sentido. Quando saia a noite para as festas pedia tapas na cara e fazia gestos obscenos. Fui cercado por outros drogados, usuários das drogas mais estranhas; uns nobres queriam me mostrar o "caminho das pedras", outros extremistas preferem o "caminho dos templos". Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos radicais e ser dominado pela droga mais poderosa do mercado: a droga limpa.Hoje estou internado numa clínica. Meus verdadeiros amigos fizeram a única coisa que poderiam ter feito por mim. Meu tratamento está sendo muito duro: doses cavalares de Rock in Rol, MPB e Blues. Mas o meu médico falou que é possível que tenha que recorrer ao Jazz e até mesmo a Mozart e Bach.

Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as pessoas a não se entregarem a esse tipo de droga. Os traficantes só pensam em dinheiro. Eles não se preocupam com a sua saúde, por isso tapam sua visão para as coisas boas e te oferecem drogas. Se você não reagir, vai acabar drogado: alienado, inculto, manobrável, consumível, descartável, otário e distante; vai perder as referências e definhar mentalmente. Em vez de encher a cabeça com porcaria, pratique esportes, conheça melhor a realidade em que você esta inserido e, na dúvida, se não puder distinguir o que é droga ou não, faça o seguinte: Não ligue a TV no Domingo à tarde; Não escute nada que venha de Goiânia ou do Interior de São Paulo; Não entre em carros com adesivos "Fui...". Se te oferecerem um Cd, procure saber se o suspeito foi ao programa da Hebe do Faustão ou se apareceu no Sabadão do Gugu; Mulheres gritando histericamente é outro indício; Não compre nenhum Cd que tenha mais de 6 pessoas na capa; Não vá a shows em que os suspeitos façam gestos ensaiados; Não compre nenhum Cd que a capa tenha nuvens ao fundo. Não compre qualquer Cd que tenha vendido mais de 1 milhão de cópias no Brasil; e Não escute nada que o autor não consiga uma concordância verbal mínima. Mas, principalmente, duvide de tudo e de todos. A vida é bela! Eu sei que você consegue! Diga não às drogas!

Luiz Fernando Veríssimo - Adaptado por João Ludgero

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Os Brasis na História


Darcy Ribeiro

Depois de compor toda uma vasta teoria da história, que concluo com este livro, devo confessar que as grandes seqüências históricas, únicas e irrepetíveis, em essência são inexplicáveis.
O que alcançamos são algumas generalizações válidas que lançamos aqui e ali, iluminando passagens. É, porém, irresistível, como aventura intelectual, a procura dessas generalizações. É também indispensável, porque nenhum povo vive sem uma teoria de si mesmo. Se não tem uma antropologia que a proveja, improvisa-a e difunde-a no folclore.
A história, na verdade das coisas, se passa nos quadros locais, como eventos que o povo recorda e a seu modo explica. É aí, dentro das linhas de crenças co-participadas, de vontades coletivas abruptamente eriçadas, que as coisas se dão. Essa é a razão por que, em lugar de um quadro geral da história brasileira, compus esses cenários regionais.
Uma copiosa documentação histórica mostra que, poucas décadas depois da invasão, já se havia formado no Brasil uma protocélula étnica neobrasileira diferenciada tanto da portuguesa como das indígenas. Essa etnia embrionária, multiplicada e difundida em vários núcleos - primeiro ao longo da costa atlântica, depois transladando-se para os sertões interiores ou subindo pelos afluentes dos grandes rios -, é que iria modelar a vida social e cultural das ilhas-Brasil. Cada uma delas singularizada pelo ajustamento às condições locais, tanto ecológicas quanto de tipos de produção, mas permanecendo sempre como um renovo genésico da mesma matriz.
Essas ilhas-Brasil operaram como núcleos aglutinadores e aculturadores dos novos contingentes apresados na terra, trazidos da África ou vindos de Portugal e de outras partes, dando uniformidade e continuidade ao processo de gestação étnica, cujo fruto é a unidade sociocultural básica de todos os brasileiros.
Acredito que se possa distinguir a existência dessa célula cultural neobrasileira, diferenciada e autônoma em seu processo de desenvolvimento, a partir de meados do século XVI; quando se erigiram os primeiros engenhos de açúcar, sendo ainda dominante o comércio de pau-de-tinta, e quando ainda se tratava de engajar o índio como escravo do setor agroexportador. Era a destinação e a obra dos mamelucos-brasilíndios, que já não sendo índios nem europeus, nem nada, estavam em busca de si mesmos, como um povo novo em sua forma ainda larvar.
Era gestada nas comunidades constituídas por índios desgarrados da aldeia para viver com os portugueses e seus mestiços - que começavam a multiplicar-se na costa pernambucana, baiana, carioca e paulista. Com base no compadrio, ainda no tempo das relações de escambo com índios que permaneciam em suas aldeias independentes.
Aqueles núcleos pioneiros evoluíram rapidamente para a condição de comunidades-feitorias quando passaram a integrar também indígenas capturados, estruturando-se em volta de um núcleo de mamelucos e funcionando como bases operacionais dos brancos que serviam de apoio aos navios, estabelecendo suas próprias relações de aliança ou de guerra com tribos vizinhas. Ainda que embebidos na cultura indígena, só falando a língua da terra e estruturados em bases semitribais, já eram regidos por princípios organizativos procedentes da Europa. Constituíam, assim, de fato, brotos mutantes do que viria a ser uma civilização urbana e letrada.
Dessas comunidades se projetaram os grupos constitutivos de todas as áreas socioculturais brasileiras, desde as velhas zonas açucareiras do litoral e os currais de gado do interior até os núcleos mineiros do centro do país, os extrativistas da Amazônia e os pastoris do extremo sul. Cobrindo milhares de quilômetros, essa expansão - por vezes lenta e dispersa como a pastoril, por vezes intensa e nucleada como a mineradora - foi multiplicando matrizes, basicamente uniformes, por todo o futuro território brasileiro. Apesar de tão insignificantes, de fato disseminaram-se como uma enfermidade, contaminando a indianidade circundante, desfazendo-as e refazendo-as como ilhas civilizatórias. Só muito depois começaram a comunicar-se regularmente umas com as outras, através dos imensos espaços desertos que as separavam.
Sobre aquele arquipélago, integrando societariamente essas ilhas, se estendiam três redes aglutinadoras: a identidade étnica, que já não sendo índia se fazia protobrasileira; a estrutura socioeconômica colonial de caráter mercantil, que as
vinculava umas com as outras através da navegação oceânica e com o Velho Mundo, como provedores de pau-de-tinta; uma nova tecnologia produtiva, que as ia tornando mais e mais complexas e dependentes de artigos importados. Sobre todas elas falava uma incipiente cultura erudita, principalmente religiosa, de padrão básico, que se ia difundindo. Tal como o índio Uirá, que saiu à procura de Deus, para identificar-se ante a divindade declara "eu sou de seu povo, o que come farinha", todos nós, brasileiros, podemos dizer o mesmo: "Nós somos o povo que come farinha de pau".
A identidade étnica dos brasileiros se explica tanto pela precocidade da constituição dessa matriz básica da nossa cultura tradicional, como por seu vigor e flexibilidade.
Essa última característica lhe permitirá, como herdeira de uma sabedoria adaptativa milenar, ainda dos índios, conformar-se, com ajustamentos locais, a todas as variações ecológicas regionais e sobreviver a todos os sucessivos ciclos produtivos, preservando sua unidade essencial. A partir daquelas protocélulas, através de um processo de adaptação e diferenciação que se estende por quatro séculos, surgem as variantes principais da cultura brasileira tradicional (ver conceitos de cultura rústica e cultura caipira em Melo e Souza 1964; de cultura camponesa e folk-culture em Redfield 1941 e 1963; de cultura cabocla em Willems 1947 e de cultura crioula em Gillin 1947 ).
Elas são representadas pela cultura crioula, que se desenvolveu nas comunidades da faixa de terras frescas e férteis do Nordeste, tendo como instituição coordenadora fundamental o engenho açucareiro. Pela cultura caipira, da população das áreas de ocupação dos mamelucos paulistas, constituída, primeiro, através das atividades de preia de índios para a venda, depois, da mineração de ouro e diamantes e, mais tarde, com as grandes fazendas de café e a industrialização. Pela cultura sertaneja, que se funde e difunde através dos currais de gado, desde o Nordeste árido até os cerrados do Centro-Oeste. Pela cultura cabocla das populações da Amazônia, engajadas na coleta de drogas da mata, principalmente nos seringais. Pela cultura gaúcha do pastoreio nas campinas do Sul e suas duas variantes, a matuta-açoriana (muito parecida com a caipira) e a gringo-caipira das áreas colonizadas por imigrantes, predominantemente alemães e italianos.
Em termos de formação econômico-social, se pode dizer que essas faces do Brasil rústico se plasmaram como produtos exógenos da expansão européia, que as fez surgir dentro de uma formação agrário-mercantil-escravista, bipartidas em implantes citadinos e contextos rurais mutuamente complementares, estratificadas em classes sociais antagônicas,
ainda que também funcionalmente integradas. Seu motor foi o processo civilizatório desencadeado pela Revolução Mercantil, que permitiu aos povos ibéricos expandir-se para o além-mar e criar a primeira economia de âmbito mundial.
O Brasil, como fruto desse processo, desenvolve-se como subproduto de um empreendimento exógeno de caráter agrário-mercantil que, reunindo e fundindo aqui as matrizes mais díspares, dá nascimento a uma configuração étnica de povo novo e o estrutura como uma dependência colonial-escravista da formação mercantil-salvacionista dos povos ibéricos.
Não se trata, como se vê, de um desdobramento autônomo, produzido a partir da etapa evolutiva em que viviam os indígenas (revolução agrícola) e do tipo de formação com que se estruturavam (aldeias agrícolas indiferenciadas, isto é, não estratificadas em classes). Trata-se, isto sim, da ruptura e transfiguração das mesmas, por via da atualização histórica promovida por uma macroetnia em expansão:a mercantil-salvacionista portuguesa (Ribeiro1968 ).
É simplesmente espantoso que esses núcleos tão iguais e tão diferentes se tenham mantido aglutinados numa só nação. Durante o período colonial, cada um deles teve relação direta com a metrópole e o "natural" é que, como ocorreu na América hispânica, tivessem alcançado a independência como comunidades autônomas. Mas a história é caprichosa, o "natural" não ocorreu. Ocorreu o extraordinário, nos fizemos um povo-nação, englobando todas aquelas províncias ecológicas numa só entidade cívica e política.