segunda-feira, 20 de outubro de 2008

DIGA NÃO AS DROGAS!

Postado por João Ludgero

Tudo começou quando eu tinha 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de "experimenta! Depois, quando você quiser, é só para..." e eu fui na dele.

Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de "raiz", "da terra", que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco do Chitãozinho e Xororó" e em seguida um do "Leandro e Leonardo". Achei legal, coisa bem brasileira; mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais freqüente, comecei a chamar todo mundo de "Amigo" (programa exibido na globo por eles) e acabei comprando pela primeira vez. Lembro que cheguei na loja e pedi: - Me dá um de Zezé de Camargo e Luciano! Era o princípio de tudo!

Logo resolvi experimentar algo diferente e ele me ofereceu um Cd de Axé. Ele dizia que era para relaxar; sabe, coisa leve... "Banda Eva", "Cheiro de Amor", "Netinho", Babado Novo, etc. Com o tempo, meu amigo foi oferecendo coisas piores: "É o Tchan", "Companhia do Pagode", "Ásia de Águia" , AVIÕES e muito mais.

Após o uso contínuo eu já não queria mais saber de coisas leves: eu queria algo mais pesado, mais desafiador, que me fizesse mexer a bunda como eu nunca havia mexido antes! Então meu "amigo" me deu o que eu queria: um Cd do "Harmonia do Samba". Minha bunda passou a ser o centro da minha vida, minha razão de existir. Eu pensava por ela, respirava por ela, vivia por ela!Mas, depois de muito tempo de consumo, a droga perde efeito, e você começa a querer cada vez mais, mais, mais...

Comecei a freqüentar o submundo e correr atrás das paradas. Foi a partir daí que começou a minha decadência. Fui ao show de encontro dos grupos "Karametade" e "Só pra Contrariar", e até comprei a Caras (revista de fofoqueiros e desocupados) que tinha o "Rodriguinho" (fantoche da mídia) na capa.

Quando dei por mim, já estava com o cabelo pintado de loiro... minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro... meus polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo fazendo sinais de positivo! Não deu outra: entrei para um grupo de pagode. Enquanto vários outros viciados cantavam uma "música" que não dizia nada, eu e mais 12 infelizes dançávamos alguns passinhos ensaiados, sorriamos e fazíamos sinais combinados. Lembro-me de um dia quando entrei nas Lojas Americanas e pedi "As melhores do Molejão". Foi terrível!!! Eu já não pensava mais!! Meu senso crítico havia sido dissolvido pelas rimas "miseráveis" e letras pouco arrojadas. Meu cérebro estava travado, não pensava mais em nada!

Mas a fase negra ainda estava por vir. Cheguei ao fundo do poço, no limiar da condição humana, quando comecei a escutar "Popozudas", "Bondes", "Tigrões", "Motinhas", "Tapinhas" e "Éguinhas". Comecei a ter delírios, a dizer coisas sem sentido. Quando saia a noite para as festas pedia tapas na cara e fazia gestos obscenos. Fui cercado por outros drogados, usuários das drogas mais estranhas; uns nobres queriam me mostrar o "caminho das pedras", outros extremistas preferem o "caminho dos templos". Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos radicais e ser dominado pela droga mais poderosa do mercado: a droga limpa.Hoje estou internado numa clínica. Meus verdadeiros amigos fizeram a única coisa que poderiam ter feito por mim. Meu tratamento está sendo muito duro: doses cavalares de Rock in Rol, MPB e Blues. Mas o meu médico falou que é possível que tenha que recorrer ao Jazz e até mesmo a Mozart e Bach.

Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as pessoas a não se entregarem a esse tipo de droga. Os traficantes só pensam em dinheiro. Eles não se preocupam com a sua saúde, por isso tapam sua visão para as coisas boas e te oferecem drogas. Se você não reagir, vai acabar drogado: alienado, inculto, manobrável, consumível, descartável, otário e distante; vai perder as referências e definhar mentalmente. Em vez de encher a cabeça com porcaria, pratique esportes, conheça melhor a realidade em que você esta inserido e, na dúvida, se não puder distinguir o que é droga ou não, faça o seguinte: Não ligue a TV no Domingo à tarde; Não escute nada que venha de Goiânia ou do Interior de São Paulo; Não entre em carros com adesivos "Fui...". Se te oferecerem um Cd, procure saber se o suspeito foi ao programa da Hebe do Faustão ou se apareceu no Sabadão do Gugu; Mulheres gritando histericamente é outro indício; Não compre nenhum Cd que tenha mais de 6 pessoas na capa; Não vá a shows em que os suspeitos façam gestos ensaiados; Não compre nenhum Cd que a capa tenha nuvens ao fundo. Não compre qualquer Cd que tenha vendido mais de 1 milhão de cópias no Brasil; e Não escute nada que o autor não consiga uma concordância verbal mínima. Mas, principalmente, duvide de tudo e de todos. A vida é bela! Eu sei que você consegue! Diga não às drogas!

Luiz Fernando Veríssimo - Adaptado por João Ludgero